terça-feira, 28 de julho de 2009

A Questão Indígena no Sul de Mato Grosso do Sul: uma referência para os estudos da diversidade, cidadania e autonomia educativa.


Simone Anselmo Girão[1]

Iniciaremos nossas reflexões sobre a história dos povos Guarani da região sul do atual Estado de Mato Grosso do Sul, a partir dos porquês dos problemas que perpassam essas comunidades na realidade da grande Dourados. Dessa forma é necessário entender o papel da história, enquanto uma ciência ocidental dominante que “constrói” ou “destrói” as referências da memória de um povo.
Na história do povo Guarani Ñhandeva e do povo Guarani Kaiowá pode-se destacar algumas temáticas que se fazem importantes para entendermos o contexto em que essa comunidade está inserida, como por exemplo:

· História dos aldeamentos: causas, conseqüências, conteúdos escolares;
· Relação do povo guarani/kaiowá com outros povos indígenas (cone Sul);
· Educação indígena: antes, hoje;
· História e os novos problemas: "mazelas" que vem de fora;
· Sobrevivência e autonomia dos povos indígenas;
· A escola e os projetos futuros da comunidade;
· Localização das reservas / centros urbanos (proximidade);
· Líderes indígenas que se destacaram na luta;
· ONG´s, políticas e conseqüências;
· Políticas indigenistas do governo federal;

A partir dessas temáticas é possível perceber a vastidão de acontecimentos históricos que envolvem a questão indígena e que são de suma importância para o nosso conhecimento, enquanto educadores, estudantes e comunidade indígena.
A questão indígena em Mato Grosso do Sul (na época Estado de Mato Grosso), voltada para uma análise da situação sociocultural e política relacionada ao povo Guarani Ñhandeva e Guarani Kaiowá, teve como conseqüência, a partir das políticas do governo federal entre os anos de 1943 e 1950,o loteamento das terras indígenas no município de Dourados, sul do Estado; fruto da anterior política de aldeamento, do início do século XX (1915) no Brasil que teve o SPI (Serviço de Proteção ao Índio) como principal órgão de demarcação das reservas indígenas no território brasileiro.
A política indigenista no processo de colonização foi a de aldear os índios para uma efetiva ocupação das terras por colonos como uma forma de "proteger" as fronteiras. Havendo colonos, a posse da terra na região estaria garantida. Estratégia que parte da exclusão do índio como habitante local; partia-se do princípio - isso em uma história construída por uma concepção etnocêntrica, que visava à construção de uma nova identidade para o Estado de Mato Grosso, que não fosse com base na história dos povos indígenas - de que essa região era "terra de ninguém" ou "sertões inóspitos".
Devido a esses fatores faz-se necessário conhecer a história dos Guarani Ñhandeva e dos Guarani Kaiowá da região de Dourados, para podermos interpretar os acontecimentos por outra óptica que não a dominante. Enquanto educadores precisamos pesquisar para compreender, a história da comunidade para quem desenvolvemos um trabalho. Só assim poderemos contribuir realmente com a formação das pessoas que buscam na diversidade uma alternativa para a construção de um processo educativo, autônomo e, portanto cidadão.
Para conhecermos melhor as histórias “omitidas” de vários grupos sociais brasileiro, assim como a dos Guarani Ñhandeva e a dos Guarani Kaiowá, é fundamental buscar-mos fontes de estudo na própria comunidade tendo como parâmetro a experiência histórica que essas pessoas construíram e constroem no seu grupo de convivência sociocultural, política, religiosa e econômica.



Referência Bibliográfica:
BRAND, Antonio. O impacto da perda da terra sobre a tradição kaiowá/guarani: os difíceis caminhos da Palavra, Tese de doutorado, História da PUC/RS, 1997.

[1] Mestre em História pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campus de Dourados, Coordenadora de Tutoria do Curso “Educação na Diversidade e Cidadania” da EaD – UFMS e professora da Rede Pública Estadual de Educação em Campo Grande, MS.



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