sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Conversando sobre Educação


A história dos caminhos percorridos para se chegar a educação escolar no Brasil é fonte de análise para compreendermos como foi, durante anos, constituída nossa mentalidade em relação ao conhecimento formal, organizado mediante as necessidades sociopolíticas de cada momento.
Desde a vinda dos europeus para a América do Sul entre os séculos XV e XVI a educação não familiar fez parte das estratégias de “dominação”, sendo os padres jesuítas – no caso do Brasil - os responsáveis pelo processo de idealização da escola e anteriormente de alfabetização dos povos locais na língua portuguesa e também no aprendizado da fé católica com o objetivo de desempenhar a função de agentes de assimilação dos índios a civilização cristã. “Nem mesmo na Europa havia escola para o povo, porém a escola para os índios significava a adesão plena à cultura portuguesa. Não tendo esta instituição o resultado esperado” (CASARO).
Desse modo, a educação escolar seguiu seu desenvolvimento atrelada a realidade histórica e aos interesses do momento, em que a maior parte da população de origem negra e mestiça era deixada de lado em seu conhecimento no que se refere ao projeto de edificar uma identidade nacional ao Brasil.
A escola e seus conteúdos direcionam e “organizam” a formação das pessoas que a buscam, seja por uma imposição trazida pelas necessidades de uma sociedade que precisa estabelecer regras de vivência e de distribuição das atividades econômicas, ou pela vontade e maturidade de cada um em compreender as contradições em que estão inseridos como sujeitos históricos. Acredito que nessa análise sobre teoria educacional perceberemos que em diferentes momentos históricos, as três citadas no texto indicado para leitura na Unidade I, podem ser caracterizadas e até mesmo serem percebidas em momentos concomitantes.
Os grupos “marginalizados” no desenvolvimento dos processos econômicos e geralmente utilizados como mão-de-obra barata, defendem há séculos, o direito de participar de todo o processo produtivo, inclusive de seus lucros e poder ter uma educação escolar tão boa quanto qualquer outro grupo. Além dessas reivindicações também é tratado do direito as especificidades de conhecimento, como no caso das comunidades indígenas, quilombolas e rurais, que “lutaram”, efetivamente, para que seus saberes fossem garantidos, respeitados e valorizados nas escolas, assim como, os saberes da cultura européia (referência da produção de conhecimentos no mundo).
Com outros interesses, grupos que controlam a economia, as relações políticas, sociais, religiosas, estruturam o ensino que atenda as suas necessidades elaborando políticas públicas no sentido de garantir o “controle” da sociedade. A escola vem sendo, a meu ver, uma instituição que reflete tanto os problemas vivenciados no todo social, como também a necessidade de um grupo relacionada ao “desenvolvimento” econômico e tecnológico que gera para as pessoas que fazem parte desse grupo, o controle político sobre a produção e reprodução dos bens de consumo materiais e imaterias.
A relação de dominância sobre o conhecimento é subjetiva e por isso depende do olhar que cada grupo tem sobre o outro. Assim, tudo que se aprende em sociedade, seja nos espaços formais de educação, ou em casa com a família, deve ter um significado, um objetivo que justifique o aprendizado, que faça com que a pessoa compreenda o contexto em que esse ensinamento chega até ela, a partir daí cada indivíduo se relacionará com o conhecimento de acordo com sua visão de mundo, de vida em grupo, de cidadão.
Teoricamente já se sabe dessa questão, da necessidade de construir uma educação mais crítica, participativa; como diria Paulo Freire cidadã, tanto no ambiente da escola como em outros lugares: em casa, no trabalho etc. No entanto, para a maioria da sociedade e para quem organiza as políticas públicas, ao menos no Brasil, tem sido um desafio transpor as dificuldades da educação escolar em promover uma relação de ensino aprendizagem baseada no respeito, na troca e na produção de conhecimento.
As políticas públicas para a educação ainda são engessadas nos interesses políticos e econômicos, e por isso a mudança se torna tão difícil e faz com que todos que trabalhem nessa área acomodem-se. Coloca-se a tecnologia a disposição, mas não se estrutura as condições para o desenvolvimento de novas práticas. O currículo escolar está fechado na sala de aula, nas aulas expositivas, nos prazos conteúdistas e não preocupado com o conhecimento em si, com o significado que as mudanças trazidas pelas tecnologias e mídias possam trazer para os estudantes como mecanismo de produção de seu próprio conhecimento.
Os profissionais da educação, acredito que a maioria, sabem que precisam ir além das práticas educacionais atuais, sabem que as metodologias de trabalho estão desgastadas, porém estão amarrados no comodismo intelectual, provocado pelo nosso contexto sociopolítico em que grande parte da população está a margem dos saberes e das possibilidades de crítica.
Somente uma educação cidadã, que realmente rompa com as desigualdades e promova equidade dos sabres poderá transformar a mentalidade das pessoas. Apenas compreendendo as "contradições" em que vivemos, poderemos transformar o que não nos serve, poderemos vislumbrar uma sociedade crítica, que produz conhecimento e faz com que ele seja uma prática a favor do bem-estar de todos.
Cada vez mais, em vários espaços de produção de conhecimento, as pessoas se preocupam com a qualidade da educação que está sendo exercitada por discentes e docentes. Essa preocupação tem levados os grupos a buscarem, via órgãos públicos, seus direitos a um processo educativo de qualidade e que atenda suas necessidades particulares, um exemplo é a busca por modalidades de educação como a educação escolar indígena, a educação no campo, a educação a distância, entre outras. Essa busca demonstra que as pessoas precisam e querem fazer parte dessa transformação cultural pela qual passa a relação diálogo-aprendizagem-cidadania.
Aprender a se pensar como parte fundamental do todo social é um exercício filosófico essencial, lembrar que “contra todas as forças que, ao nos atravessarem, nos querem fracos, tristes, servos e tolos só há uma atitude: criar” (DELEUZE).

Bibliografia:
CASARO, Adir. Educação Escolar como fator de sobrevivência dos povos indígenas: política, equidade e qualidade. Texto. Goiânia, Maio, 2002.
BACKES, José Licínio. História escolar no Brasil: uma história etnocêntrica. In: Série Estudos – Periódico do Mestrado em Educação da UCDB, n. 15, Campo Grande, 2003.
DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro, Ed. 34, 1992.




sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Tecnologias e Educação

Tecnologias e Educação

Simone Anselmo Girão

O uso das tecnologias nos processos de aprendizagem precisa acompanhar o desenvolvimento socioeconômico das sociedades, no sentido de garantir a todos os grupos representados na sociedade brasileira; independente de questões étnicas, de gêneros, de necessidades especiais, o acesso aos conhecimentos contemporâneos mediados pelas novas tecnologias e relevantes para garantir as pessoas qualidade de vida, não somente relacionada à questão econômica, mas também as demandas culturais e políticas, de conhecimento do todo social.
A educação deve sempre estar associada às necessidades do cotidiano sociocultural dos grupos: trabalho, família, formação acadêmica, religião, enfim diretamente ligada ao bem estar das pessoas na profundidade da relação do eu com o outro.
As tecnologias podem ser aliadas nesse processo de garantir aos grupos sociais os conhecimentos necessários para que se possa viver bem, no sentido econômico e no sentido cultural, de ter acesso aos conhecimentos “produzidos” (poder de reflexão de atuação intelectual na realidade social que se faz parte) para que esse conjunto de saberes transforme a mentalidade coletiva e assim democratize o acesso das pessoas aos bens materiais e imaterias produzidos por uma sociedade. Porém, os instrumentos tecnológicos quando utilizados como simples meios de comunicação dominados por um grupo da sociedade que tem intenções publicitárias e mercadológicas podem se tornar mecanismos de reprodução e aumento das desigualdades, bem como se torna um meio de reforçar o senso comum, engessando as possibilidades de interpretação e reflexão sociocultural das pessoas. Um exemplo de instrumento de poder relacionado à tecnologia e formador das mentalidades é a televisão. Temos também os computadores e mídias como a internet, porém esses menos utilizados pela população, comparando ao uso de televisores.
Para que as tecnologias sejam utilizadas no sentido de contribuir com a formação profissional e pessoal dos grupos sociais é necessário repensarmos os objetivos da aprendizagem em nosso país. O primeiro deveria ser o de findar as desigualdades sociais e econômicas, oportunizando as pessoas condições reais de acesso e de produção dos conhecimentos ligados as necessidades específicas de cada grupo.

Bibliografia e Fontes

ALMEIDA, Maria Elizabeth B. e PRADO, Maria Elisabette B.B. Integração tecnológica, linguagem e representação. Boletim do Programa Salto para o Futuro. TVEscola, 2005. Disponível no site http://www.tvebrasil.com.br/salto (acesso 20/11/2008).

MORAN, José Manuel. Desafios da televisão e do vídeo à escola In ALMEIDA, Maria Elizabeth & MORAN, José Manuel (org.). Integração das Tecnologias na Educação. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 2005, p. 96-100.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Visita ao MuArque - UFMS

A produção do conhecimento histórico escolar está intimamente ligada à produção científica realizada nas universidades. Para que os estudantes tenham acesso à produção acadêmica é necessário levá-los aos ambientes que promovam as pesquisas em história e em outras áreas do conhecimento. Desse modo, conhecer os trabalhos arqueológicos do Museu de Arqueologia de MS, realizados e mantidos por profissionais da UFMS, é uma atividade de campo que contribui para o desenvolvimento intelectual de nossos alunos, ajudando-os a "materializar" o aprendizado adquirido nas aulas expositivas e trabalhos realizados no ambiente escolar. Conhecer o passado arqueológico da região a qual fazemos parte é um meio de conhecermos a nós mesmos e aos grupos étnicos que, na expressão das diversidades culturais, formam a sociedade brasileira.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Educação Escolar Indígena


"ESCOLAS INDÍGENAS E PROJETOS DE FUTURO"
O CIMI E A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA


Elizabeth A. Rondon AmaranteEunice Dias de Paula
Publicado na revista "Textos e PreTextos sobre educação indígena", número 1, de abril de 2001.


1. INTRODUÇÃO

Em 1982, Paulo Freire assessorou uma Assembléia do Cimi-MT e, com seu jeito de educador-poeta, afirmou: "As táticas são exatamente os caminhos que se criam, andando, para viabilizar o sonho".
E, em muitos de seus escritos e palestras, ele se refere ao diálogo como à grande tática educativa, capaz de abrir caminhos e concretizar projetos de futuro.
Ao avaliar hoje suas atividades na área de educação, o Cimi explicita um diálogo que vem se desenrolando há quase 30 anos, entre os anseios dos povos indígenas e a assessoria dos missionários.
O Cimi se considera parceiro dos povos indígenas. Assim, sua resposta é aquela da Assembléia Nacional de 1995, quando coloca como seu grande desafio o de "continuar lutando junto aos povos indígenas, a fim de ajudar a ampliar suas perspectivas de futuro (...) apoiando e subsidiando comunidades, povos e Organizações Indígenas no sentido de fortalecê-los sempre mais no exercício de seu protagonismo"
A educação escolar indígena é, sem dúvida, essa tática, esse "caminho a ser criado, andando" em vistas ao protagonismo e à autonomia dos povos indígenas.
Se queremos hoje registrar a memória, o processo e a busca dessa conquista que é a escola indígena, devemos refazer o caminho desde a primeira Assembléia do Cimi, em 1975, em que a Igreja se compromete a uma nova linha missionária.
Na verdade, essa nova trajetória germinou da experiência missionária de Utiariti, o internato indígena da Missão Anchieta, em Mato Grosso. Os jesuítas que atuavam nessa região, desde 1967, já avaliavam "com objetividade o processo de trabalho no setor indígena" constatando que a Missão enveredava por um "processo aculturativo sem preocupação antropológica", uma atuação em que o missionário se tornava "pacificador, pai e patrão" dos povos com os quais convivia no internato-escola de Utiariti. Diversas análises apontaram para uma agressão ao sistema tradicional dos povos indígenas, sobretudo no campo da educação.
Conforme registro dos relatórios e diários da Missão Anchieta, eles se propuseram então a "um sério esforço de mudança de atitudes" e o término do sistema de internato. Em 1969, um desses diários dizia:
"A Missão concentrou até nossos dias os seus maiores esforços em Utiariti. Hoje percebe que tal fase está superada. O retorno à vida tribal está entrando na fase profunda pois toma-se a decisão de transformar Utiariti em ‘posto de transição’ e não mais de fixação".
Pode parecer ter sido esse um fato isolado, localizado geograficamente numa determinada situação, mas, na verdade, tornou-se um acontecimento emblemático na história, pois foi a partir desse grupo e dessa decisão lúcida e corajosa que, aglutinando-se outras experiências e outras reflexões, nasceu o Cimi em 1972.
Vale também ressaltar que a prática educacional que perpassa os diversos níveis e âmbitos de atuação, foi o dínamo de toda a conversão missionária.
Na Assembléia de 1977, o Cimi se propõe a "repensar o problema das escolas, seu estilo e seus métodos". Note-se que nessa época ainda existiam muitas escolas-internato funcionando.
Em 1979, o relatório sublinha: "No processo de autodeterminação os povos indígenas e o Cimi valorizam a educação como essencial (...) entendendo-a como ‘técnica suplementar e não como substitutiva da educação indígena".
Logo em seguida, no ano de 1981, o próprio tema da Assembléia Nacional é a Educação. Afirma-se, então, o "valor substancial da língua indígena" e a importância de se reverem atitudes e procedimentos didáticos.
A partir desse momento, o Cimi intensifica o seu diálogo como parceiro e interlocutor de povos que têm "o direito de reclamar sua vivência", como dizia Xangrê, líder do povo Kaigang. Essa herança a que Marçal Guarani se referia quando disse que: "O ensino aplicado até hoje tem matado o que há de mais sagrado para nós que é a nossa cultura. Se conservarmos o que é sagrado para nós seremos um povo que vai caminhando na libertação".
E "ninguém melhor que os índios para defender o que é deles" diziam as lideranças nas Assembléias de Chefes Indígenas. Nessa atitude, a Assembléia do Cimi de 1983 assinala "sinais de esperança na organização de povos que assumem suas próprias lutas na defesa de seus direitos".
É o início de uma outra "virada" na concepção da educação - aquela que "reconhece a educação como instrumento político de cada povo na sua luta por autodeterminação (...) e que cada povo assuma o próprio processo de educação dentro de sua realidade" (Assembléia de 1985).
Eram os tempos dos Encontros de Educação organizados pela OPAN - então Operação Anchieta - reunindo missionários e leigos numa produtiva troca de experiências e busca de "escolas alternativas" nas aldeias.
Foi também um momento significativo marcado por alguns documentos em que os missionários do Cimi tiveram parte ativa na elaboração: o Documento do II Encontro do Grupo de Estudos sobre Educação Indígena, organizado pela UNI e pelo Cimi, e o texto "Exigências de uma Nova Ordem Educacional Indígena", de 1986.
O caminho estava orientado para uma colaboração mais efetiva visando a "transformação crescente da escola em instrumental político a serviço da organização indígena (...) promovendo um processo de análise crítica e autocrítica em vista de um projeto alternativo". Uma decisão que "exigirá preparação técnica, antropológica, conhecimento e aprofundamento da língua e da cultura" de cada povo (Assembléia de 1987).
Os Encontros e Cursos de Professores Indígenas e o Movimento de Professores começavam a se alastrar em quase todos os Regionais, muito especialmente na Amazônia.
A Constituinte em curso exigia reflexões, debates, formação e informação específica em relação aos direitos indígenas e à questão das escolas. Por isso, as bases pediram ao Secretariado a liberação de uma pessoa para acompanhar a tramitação de toda essa luta no Congresso, no MEC, no Estatuto do Índio e na LDB.
Os relatórios das Assembléias já não falam tanto de educação escolar, mas referem-se mais ampla e globalmente às Organizações Indígenas e às "crescentes exigências de formação política das comunidades, inclusive dos professores, para que todos trabalhem tendo como referência o futuro do povo" (Assembléia de 1989).
"O eixo de todas as colocações e de todos os relatos foi a questão da autonomia indígena no sentido de apoio a suas organizações e na concretização da formação dos índios nos diversos níveis" (Nota do relatório da Assembléia de 1991).
Essa preocupação sobre formação se estende também à produção de "material pedagógico diversificado e adequado às realidades". Foi certamente uma percepção bastante grande das aspirações das comunidades indígenas, segundo a expressão de um professor Kaxinawá: "Dentro do futuro, queremos ter a nossa escola na aldeia, funcionando pelo próprio índio mesmo" (Osair Sião Kaxinawá).
Evidentemente, todo esse caminho andado iria desembocar num programa de ação sempre mais globalizante e aberto a novos horizontes "em vistas à autonomia dos povos indígenas no que diz respeito a seus direitos básicos, em especial na educação" (Assembléia de 1993).
Era também uma resposta a afirmações como essa, da Assembléia Indígena do Acre, em 1991, quando os índios diziam com orgulho: "Damos rumo ao nosso destino!"
Ou em consonância com o texto da Assembléia Tupi em 1982: "Assumimos e continuamos com a resistência de nossos antepassados. Acreditamos na nossa força e união organizada".
Cada vez mais o Cimi se capacita para, em todos os níveis, "assessorar comunidades, lideranças e organizações na sua dimensão integral, tendo sempre em consideração as diferenças étnico-culturais, os mecanismos próprios e a pedagogia de cada povo nos programas formativos e informativos".
"Os povos indígenas, muito mais que herdeiros de um passado, são povos do futuro, pois anunciam com o seu modo de ser, a possibilidade de uma vida plena de significado", diz a Assembléia de 1995.
A Assembléia de 1999 reafirma que "a perspectiva da autonomia dos povos indígenas tem sido o eixo da prática do Cimi. E a autonomia diz respeito ao território, à organização social e política, ao sistema educativo, à língua, à religião e à economia própria de cada povo. A autonomia é também a perspectiva nos processos de escolarização e isso se dá à medida que os próprios povos indígenas ‘ressignificam’ a escola, articulando-a com a educação tradicional".
Essa retrospectiva sobre educação nos textos e contextos das Assembléias Nacionais evidencia toda uma mística missionária impregnando a prática pedagógica.
Grande é a mística, muito limitada foi certamente a prática... Mas, sem sonhos a história não muda e os missionários do Cimi no setor de educação sempre insistiram e continuam insistindo em dialogar com os povos indígenas a respeito desse sonho de uma escola verdadeiramente indígena.


Referências bibliográficas
AZEVEDO, Marta. Movimento dos Professores Indígenas Amazonas, Roraima, Acre. Brasília: Cimi/Setor de documentação. Datilog., 1994.
CIMI. Com as próprias Mãos - Professores Indígenas construindo a autonomia de suas escolas. Brasília: Cimi, 1992.
________. Concepção e a Prática da Educação Escolar Indígena. Brasília: Cimi, 1993.
COMISSÃO PRÓ ÍNDIO. A questão da Educação Indígena. São Paulo: Brasiliense, 1981.
MEC. Diretrizes para a política nacional de educação escolar indígena. Brasília, 1994.
MELIÁ Bartomeu. Educação Indígena e Alfabetização. São Paulo: Loyola, 1979.
OPAN. A Conquista da Escrita. São Paulo: Iluminuras, 1984.
Outras fontes
Arquivos da Missão Anchieta, Cuiabá.
Relatórios das Assembléias Nacionais do Cimi, 1975 a 1999.
Relatório do Encontro "Consulta sobre Educação no Meio Indígena", 1978
Documento "Exigências de uma Nova Ordem Educacional Indígena", 1986
Documento do II Encontro do Grupo de Estudo sobre Educação Indígena, 1986
Relatórios de Assembléias do Cimi – Regional Mato Grosso, vários anos.
Relatórios de Encontros de Professores Indígenas (Mato Grosso; Mato Grosso do Sul; Pará e Amapá; COPIAR – Comissão dos Professores Indígenas do Amazonas, Roraima e Acre), vários anos.
Relatórios da Articulação Nacional de Educação – Cimi, vários anos
Jornal Porantim, Brasília: Cimi, vários anos

terça-feira, 28 de julho de 2009

A Questão Indígena no Sul de Mato Grosso do Sul: uma referência para os estudos da diversidade, cidadania e autonomia educativa.


Simone Anselmo Girão[1]

Iniciaremos nossas reflexões sobre a história dos povos Guarani da região sul do atual Estado de Mato Grosso do Sul, a partir dos porquês dos problemas que perpassam essas comunidades na realidade da grande Dourados. Dessa forma é necessário entender o papel da história, enquanto uma ciência ocidental dominante que “constrói” ou “destrói” as referências da memória de um povo.
Na história do povo Guarani Ñhandeva e do povo Guarani Kaiowá pode-se destacar algumas temáticas que se fazem importantes para entendermos o contexto em que essa comunidade está inserida, como por exemplo:

· História dos aldeamentos: causas, conseqüências, conteúdos escolares;
· Relação do povo guarani/kaiowá com outros povos indígenas (cone Sul);
· Educação indígena: antes, hoje;
· História e os novos problemas: "mazelas" que vem de fora;
· Sobrevivência e autonomia dos povos indígenas;
· A escola e os projetos futuros da comunidade;
· Localização das reservas / centros urbanos (proximidade);
· Líderes indígenas que se destacaram na luta;
· ONG´s, políticas e conseqüências;
· Políticas indigenistas do governo federal;

A partir dessas temáticas é possível perceber a vastidão de acontecimentos históricos que envolvem a questão indígena e que são de suma importância para o nosso conhecimento, enquanto educadores, estudantes e comunidade indígena.
A questão indígena em Mato Grosso do Sul (na época Estado de Mato Grosso), voltada para uma análise da situação sociocultural e política relacionada ao povo Guarani Ñhandeva e Guarani Kaiowá, teve como conseqüência, a partir das políticas do governo federal entre os anos de 1943 e 1950,o loteamento das terras indígenas no município de Dourados, sul do Estado; fruto da anterior política de aldeamento, do início do século XX (1915) no Brasil que teve o SPI (Serviço de Proteção ao Índio) como principal órgão de demarcação das reservas indígenas no território brasileiro.
A política indigenista no processo de colonização foi a de aldear os índios para uma efetiva ocupação das terras por colonos como uma forma de "proteger" as fronteiras. Havendo colonos, a posse da terra na região estaria garantida. Estratégia que parte da exclusão do índio como habitante local; partia-se do princípio - isso em uma história construída por uma concepção etnocêntrica, que visava à construção de uma nova identidade para o Estado de Mato Grosso, que não fosse com base na história dos povos indígenas - de que essa região era "terra de ninguém" ou "sertões inóspitos".
Devido a esses fatores faz-se necessário conhecer a história dos Guarani Ñhandeva e dos Guarani Kaiowá da região de Dourados, para podermos interpretar os acontecimentos por outra óptica que não a dominante. Enquanto educadores precisamos pesquisar para compreender, a história da comunidade para quem desenvolvemos um trabalho. Só assim poderemos contribuir realmente com a formação das pessoas que buscam na diversidade uma alternativa para a construção de um processo educativo, autônomo e, portanto cidadão.
Para conhecermos melhor as histórias “omitidas” de vários grupos sociais brasileiro, assim como a dos Guarani Ñhandeva e a dos Guarani Kaiowá, é fundamental buscar-mos fontes de estudo na própria comunidade tendo como parâmetro a experiência histórica que essas pessoas construíram e constroem no seu grupo de convivência sociocultural, política, religiosa e econômica.



Referência Bibliográfica:
BRAND, Antonio. O impacto da perda da terra sobre a tradição kaiowá/guarani: os difíceis caminhos da Palavra, Tese de doutorado, História da PUC/RS, 1997.

[1] Mestre em História pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campus de Dourados, Coordenadora de Tutoria do Curso “Educação na Diversidade e Cidadania” da EaD – UFMS e professora da Rede Pública Estadual de Educação em Campo Grande, MS.



quarta-feira, 8 de julho de 2009

O Movimento da Vida


Busco da vida as melhores coisas que ela possa oferecer, mas essa busca, ao mesmo tempo que busca, perde-se no movimento de controle que é o cotidiano.

Desatrelar-se dessas "teias" é o mais difícil; vejo-nos rompendo-as como alguém que anseia sair desses domínios, entretanto, vejo-nos também no movimento contrário, em direção à ambiguidade: juntando todas as teias, entrelaçando-as com nó, alguns frouxos - frutos da incerteza - e outros tão forte quanto a vontade de "rompe-los" novamente.

Viver é isso, "lutar" o tempo todo, "contra" ou " a favor" de nossos comportamentos, de nossas vontades. Viver também é encontar uma estratégia que garanta a plenitude da essência do que é a vida, do que são nossos desejos. Desejos nossos que na maioria das vezes tornam-se incompartilháveis aos outros.




Simone Anselmo Girão